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Amãezilla

Amãezilla sou eu. Metade mãe, metade bicho quando se trata de proteger a minha cria. O meu lado mãe tenta ser sensato e paciente, mas por vezes o lado bicho ganha. Bipolaridades normais disto que é a maternidade.

Amãezilla

Amãezilla sou eu. Metade mãe, metade bicho quando se trata de proteger a minha cria. O meu lado mãe tenta ser sensato e paciente, mas por vezes o lado bicho ganha. Bipolaridades normais disto que é a maternidade.

14
Jan17

As roupas ficam no armário

Margarida Reis Conde

Confesso que tinha uma ideia muito idílica da maternidade. Logo que soube que estava grávida de uma menina, imaginei-me a vesti-la como uma boneca, a pentea-la antes de ir para a cama, a dormirmos as duas agarradinhas longas sestas no sofá. Mas estava eu a dizer, logo que soube que estava grávida duma menina, foi ver-me a percorrer tudo o que era site e a descobrir lojas que antes nem sabia que existiam. Ainda estava grávida de 13 semanas e pequena Constança tinha o enxoval quase pronto. Eram fofos, eram vestidos e cueiros e todas as pinderiquices a que a minha filha tinha direito. Às vezes alguém me dizia que aquilo não era nada prático para um bebé, ainda mais para um recém-nascido, que está sempre a sujar-se. Queria lá saber! Eu não ia ser igual...a minha filha ia usar vestidos e fofos todos os dias, desde o nascimento, porque quem falava isso "não queria era trabalho". Santa ingenuidade! A Constança nasceu, e nasceu no verão. Estava calor. Tanto calor que só um body bastava. Mas eu tinha de usar os vestidos e os fofos que comprei. Mas estava cansada. Estava estourada, porque ter um bebé não é fácil, ainda mais quando é o primeiro e nós cometemos o erro (e somos arrogantes ao ponto) de acharmos que estamos preparadas. Eu não estava preparada ao contrário do que pensava. Eu era um zombie e tudo o que pensava era em dormir. Se antes tinha insónias, agora poderia dormir em qualquer canto, não interessava. Eu era um zombie, e pela minha cabeça só passavam ideias de camas fofinhas onde eu pudesse descansar, e de quanto fui burra estes anos todos em que achei que era fixe levantar-me cedo. Eu era um zombie, não fui abençoada com a capacidade do nosso presidente e tinha muita inveja das pessoas que dormiam. Pessoa que não dorme, como já se sabe, não raciocina direito, fica apática, arrasta os pés. A Constança vestia mesmo um body. Estava calor, era Agosto. Eu estava cansada. Ela bolsava de 5 em 5 minutos e mamava de dois em dois. Quando tentava por-lhe o vestido, ainda estava a levanta-la e já a gola estava molhada. Afinal, não era prático... Afinal body e babygrow era mais fácil, rápido e confortável. Mas chegar a essa conclusão não foi de todo fácil. Eram as roupas que olhavam para mim do armário, como chorassem por estarem ali abandonadas. Não, não eram as roupas... Era eu. Era eu que de repente fui tomada pela realidade. E a realidade não é tão idílica como os meus sonhos. É crua, por vezes, cruel. Um dia quando a Constança vir as fotos do seu primeiro mês de vida, talvez me pergunte porque estava sempre de body ou de pijama, nesse dia, espero poder mostrar-lhe este texto.